Até eu chegar na Escola não fazia idéia do que me esperava de verdade. Recebi um telegrama para comparecer com alguns documentos e de um dia para o outro já tinha assumido uma turminha com 24 alunos do 3º ano do Ensino Fundamental. Apresentações, estranhezas, mundos muito diferentes. Foi uma dura realidade. Todos os dias eu me impressionava mais, não sei se era com as crianças ou com o que me era instruído a fazer! As crianças, com idades de 8 e 15 anos, todas com uma vida muito sofridas, moradoras das comunidades mais carentes de Niterói. Algumas só apareciam na Escola por causa do almoço, pois não tinham nada em casa ou nenhum adulto para cuidar delas. Me assustei muito quando uma vez perguntei ao meu aluninho, o menor da turma, o motivo de ele estar com a blusa da escola tão suja, já que ele era tão caprichoso, e ele me respondeu que era ele que cuidava da roupa e da alimentação dele e do irmão, pois a mãe só vivia dormindo! Quando ía para escola ela estava dormindo e quando voltava também! Nos finais de semana ela ía para o forró e sumia. Fiquei impressionada, me deu vontade de perguntar se ele tinha certeza que aquele ser estava vivo!? Claro que eu sei que nem todas as mães aceitam a maternidade, mas presenciar de tão perto dói....
Cada rostinho daquele um sofrimento e uma história. Mas aos poucos fomos nos conhecendo. Do outro lado de tudo estava a Escola que só preocupava em manter as crianças dentro da sala de aula sem dar nenhuma importância ao conteúdo programático .... As orientações eram (tanto para minha turma quantos para as outras de diferentes níveis) cartilha de alfabetização e desenhos!!!!Nada de livros!!! Não sei se a escola poderia ser responsabilizada, mas não tinha, apesar da boa vontade e muita conversa com os alunos, uma orientação adequada, as crianças ficavam no recreio muito agressivas eram brigas e mais brigas....Não tinham aula de Educação Física, na minha opinião acho que deveria ser importante para eles se socilizarem, pois não só os alunos da minha turma que tinham a mesma origem quase todos dessa Escola tem a mesma vida de dor e sofrimento.
Quando questionávamos, por que um aluno de 14 anos ainda não sabe ler, respondiam que éramos novatas e estávamos sensibilizadas com a situação das crianças e que com o tempo nos acostumaríamos. Sempre a mesma balela.... Não acredito nisso e acho sinceramente que alguma coisa deveria ser feita por essas crianças. Com um pouco de disciplina e atenção eles tiveram um desenvolvimento enorme num curto espaço de tempo. Acredito na força de vontade e na bondade.
Essa é só uma Escola que conheci e atuei, não é ficção. Sei que devem existir outras assim também. Gostaria sinceramente que essas crianças tivessem mais oportunidades e direito verdadeiramente à educação. Não uma enganação para prender as crianças fora da rua, por causa do Conselho Tutelar(Só se fala nisso nesse lugar e as crianças tremem).
Um beijo a todos meus aluninhos queridos que me ligaram hoje em conjunto. É claro que eles não irão saber disso, pois não sabem mexer e nem possuem um computador, mas mesmo assim a minha energia e meus desejos são de muita sorte para vocês todos.
Monica
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